Gabriela Chaves¹
Marcos
Lazzaretti²
Não queremos
viver na escravidão
Nem deixar o
campo onde nascemos
Pela Terra, pela
Paz e pelo Pão:
Companheiros,
unidos venceremos.
Hoje somos
milhões de oprimidos
Sob o peso
terrível do cambão
Lutando, nós
seremos redimidos
A Reforma Agrária
é a solução.
(Leonilde Sérvolo
de Medeiros. História dos Movimentos Sociais no Campo, RJ, 1989).
Vivemos em uma sociedade marcada pela existência de
uma maioria oprimida e subordinada aos interesses de uma minoria privilegiada e
que detém a maior parte dos meios de produção. Essa última utiliza de diversas
ferramentas para manter sua dominação, tudo em nome da “democracia”. A elite dominante esquece, no entanto, que a
democracia só existe através do dialogo e, do que Paulo Freire chama, do igual
potencial de expor ideias, tentando, através da criminalização e da distorção
dos fatos, calarem os setores da sociedade que se propõem a um diálogo.
O motivo de a classe dominante tentar calar e
oprimir aqueles que estão dispostos ao dialogo, geralmente representados pelos
Movimentos Sociais, é que os mesmos apresentam uma nova proposta de sociedade,
que seja mais justa e onde não exista a exploração do homem pelo homem.
Trocando em miúdos, o ataque aos movimentos sociais, surge justamente no
momento em que a classe trabalhadora organizada começa a reivindicar seus
direitos, e se torna uma ameaça aos que se beneficiam da dominação social.
Enquanto estudantes, que sentem a necessidade de se
organizar e lutar por uma sociedade mais justa, entendemos que o Direito e as
Leis, não existem para transformar a sociedade, mas sim para mantê-la como
está, portanto, a conquista dos direitos humanos, como mostra a própria
história, só vem através da luta. Nessa perspectiva, os Movimentos Sociais, se
apresentam como órgãos que desafiam as leis e a ordem estabelecidas pela classe
dominante, e em troca apresentam um projeto alternativo de sociedade.
Para Touraine (1977), os conflitos que geram
movimentos sociais são os que definem adversários, que não se limitam a
disputas setoriais ou as possibilidades legais, mas que disputam entre si a
direção da história de uma sociedade, o autor também aponta que existe um
conflito que leva um sujeito a se por em luta, de um lado, contra o triunfo do
mercado e das técnicas e, de outro, contra os poderes autoritários. Os
Movimentos Sociais combinam um conflito propriamente social com um projeto
cultural, ou seja, ao mesmo tempo em que o sujeito luta para garantir seus
direitos, também luta contra a cultura dominante, que tenta privá-lo de seus
direitos, por exemplo, os grandes latifúndios privam milhares de brasileiros do
direito a terra.
A partir da
década de 1980, ocorre uma crescente internacionalização da agricultura, sendo
a principal característica desse processo a concentração do sistema de produção
de alimentos nas mãos de poucas empresas multinacionais. A maior parte das
terras continua nas mãos dos latifundiários, mas estes passam a ser financiados
pelo capital internacional. Essa concentração não ocorre apenas com os meios de
produção, mas também na distribuição de produtos, agravando ainda mais o
problema da fome. A concentração dos meios de produção, além de expulsar
trabalhadores do campo, causa o empobrecimento e a dependência dos pequenos
agricultores em relação às empresas multinacionais.
Nesse contexto, os movimentos sociais do
campo, organizados em nível internacional pela Via Campesina, surgem como
atores principais nas lutas populares contra o modelo de agricultura implantado
pelo neoliberalismo, reivindicando o direito a terra, se opondo ao controle
corporativo
sobre os recursos naturais e a tecnologia, defendendo a Soberania Alimentar e
apresentando um novo modelo de agricultura. A Soberania Alimentar é o direito
dos povos de decidir sobre sua própria política agrícola e alimentar,
garantindo o acesso a terra e aos créditos públicos, tornando possível a
produção camponesa com preços justos. Em uma sociedade democrática, é
indispensável uma participação ativa dos movimentos sociais do campo e da
cidade no processo de definição de políticas agrícolas e alimentares. As
políticas agrícolas não devem ser definidas por corporações comerciais como o
Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio (OMG).
Nesse mesmo contexto, entendemos que se torna
necessária a participação dos setores populares na discussão de um novo modelo
de Universidade, onde a educação esteja voltada para atender os interesses do
povo e não das elites, tornando – se um instrumento que contribua para acabar
com o abismo das desigualdades sociais, ao invés de aumentá-lo. Desde o
surgimento de movimentos populares no Brasil, foi colocada em debate a
necessidade da democratização e da popularização da cultura no país,
buscando-se o fortalecimento de espaços de trocas culturais e lutando para que
a Universidade se torne um espaço de troca de saberes popular e
cientifico.
A Via Campesina defende que as políticas de
desenvolvimento da economia devem estar baseadas fundamentalmente nos
interesses da melhoria das condições de vida de toda a população, em especial
dos mais pobres. A proposta defendida é de que a organização da produção deve
buscar em primeiro lugar, o atendimento das necessidades básicas de toda a
população. O modelo de agricultura defendido pelos movimentos camponeses,
privilegia o trabalho e a qualidade de vida do povo brasileiro, onde o
crescimento venha acompanhado da distribuição de renda e a economia seja mais
justa e solidária.
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Gabriela Chaves¹: Graduanda
do 3º semestre do Curso de Agronomia pela UFSM/Cesnors e militante da FEAB.
Marcos
Lazzaretti²: Graduando do 5º semestre do Curso de Engenharia Florestal pela
UFSM/Cesnors e militante da ABEEF.
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