Francine Lautenchleger¹
Monique Longhi²
Há pouco tempo
atrás ouviu-se sobre: Que juventude é esta, que sai por ai quebrando tudo??
Esta juventude
encontra-se, no que muitos rotulariam de estado de rebeldia. O momento típico
da juventude em que tudo parece errado, o seu mundo em conflito. Hora em
que os normais tentam conter estes “acessos de loucura”.
Acreditamos
que é necessário reavaliar se isto encontra-se de fato entre a população jovem
ou se não esta relacionado com a falta de perspectiva encontrada por eles e até
mesmo a sua visão de mundo em geral.
Assim podemos
tirar algumas conclusões tais como o papel da juventude, o que esta tem feito e
porque tem agido desta maneira.
No
mundo atual tem-se observado um consumismo das condições ambientais. Isso nos
moldes de comercialização encontrados resulta em lucro para as empresas, pois a
maioria dos produtos consumidos advém das maiores companhias de venda
existentes no mercado atualmente. Todo este sistema de comercialização traz
consigo uma dinâmica de propagandas marketing que glorificam seus produtos,
fazendo com que nós, seres humanos, acreditamos que toda esta modernidade seja
indispensável as nossas ações e relações no dia a dia.
Exemplo
disto se encontra as propagandas de brinquedos, vestuário, eletrodomésticos e
automóveis. Esta última nos mostrou recentemente o quanto se pode inferir de
uma propaganda televisionada.
Assim
sendo, nossas ações, como a compra de produtos e a alimentação, são ditadas
pelo que vemos nos meios de comunicação.
“Tudo que é jovem é bom e, portanto,
vende. Cria-se então um mercado voltado para esse status de ser jovem, que
envolve desde roupas e acessórios até cosméticos e cirurgias plásticas” (FEAB,
2010).
Este é um dos
mercados de ser jovem. Então este fato vai moldando o imaginário e produzindo
cada vez mais lucro para estas, como dito anteriormente. Há também que se
pensar sobre a alienação advinda com o processo.
Neste caso
ressalta-se que é necessário trabalhar, pois para muitos jovens, esta fase da
vida é o momento em que estes começam na sua vida profissional. Resta pouco
tempo em sua jornada diária para estudo ou outras formas de cultura, assim, o
conhecimento torna-se fragilizado, pois baseia-se nas informações recebidas
pelos meios televisivos.
Atualmente a
população jovem (entre 15 e 29 anos) está estimada em 51 milhões no Brasil,
aproximadamente 27% da população. Destes, 84,8% vivem em áreas urbanas, sendo
que 48,7% vivem em moradias inadequadas. Chega a cerca de 2 milhões de jovens
entre 15 e 29 anos que vivem em favelas. Além disso, dos 30,6% que vivem com
menos de meio salário mínimo per capita, 70% são negros(FEAB, 2010).
Estima-se que
apenas 13,2% dos jovens entre 18
a 24 anos estão matriculados no ensino superior,
enquanto 65% estão fora da escola. Entre os jovens de 15 a 17 anos, aproximadamente
17% estão fora
da escola. Apesar
de se ter
observado uma diminuição
significativa na porcentagem de
analfabetos (de 6,5 para 2,2 entre os jovens de 15 a 24 anos e de 8,1 para 4,2
entre os de 25 a
29anos), ainda existe imensas desigualdades, regionais, de raça, de gênero,
etc, no acesso e direito à educação. Dos 1,1 mil municípios com taxas de
analfabetismo superiores a 35%,
90% estão concentrados no
Nordeste. Existe uma
desigualdade enorme de
acesso a educação entre os
jovens do campo, onde apenas 3,2% frequentam o ensino superior, e da cidade,
onde o número aumenta para 17,5% (FEAB, 2010).
Após estes
dados podemos analisar um pouco da situação do jovem do campo. Estes estão
sofrendo com os mesmos problemas apresentados. O processo em si começou durante
a revolução verde em que o aumento de maquinário e insumos para produção
obrigou muitos produtores sem condições de competir com os grandes a deixarem
suas casas e partirem em busca de emprego na cidade, aliado ao processo de
desvalorização do campo, com a centralização da boa imagem e melhores formas de
vida no centro das grandes capitais como trabalhadores de indústrias.
Naquela época e ainda hoje observa-se o aumento da
violência nas cidades, além de problemas de saúde como alcoolismo e drogas, sem
contar a prostituição. Em partes esse processo ocorreu devido ao grande
contingente que deslocou-se do campo para a cidade mas que por diversos motivos
não foi devidamente absorvido.
Acredita-se
que atualmente esse processo ainda ocorra, principalmente saída das escolas do meio rural, obrigando as
crianças a seguir seus estudos na cidade. Então, muitas delas, começam a
projetar o seu futuro na forma de vida urbana, e desde cedo são alvejados por
propagandas que induzem ao consumismo como comentado anteriormente.
Portanto com a
falta de incentivos, como políticas públicas efetivas e formas de crédito
voltados principalmente às técnicas sustentáveis e a melhora real da
propriedade e a falta de técnicos que
tragam estas novas alternativas e igualmente rentáveis, para que mantenham este
futuro jovem (esteja aqui entendido homens e mulheres) no campo e a pouca
expectativa de ganhos com a sua propriedade fazem com que o mesmo se desloque
para a cidade como em momentos passados, podendo então sofrer com os mesmos
males que outrora e atualmente se observa.
Muitos dos que
permanecem no campo são obrigados, tal qual aos trabalhadores e trabalhadoras
das fábricas a seguirem trabalhando. Isto não quer dizer que não tenham horas
de lazer, mas a obrigatoriedade do serviço acontece e seu sustento se remete a
isto. Então os agricultores sabem como produzir e preservar a natureza, porém o
conhecimento de outros tempos foi se perdendo rapidamente após a chegada da
revolução verde. Conhecimento este que conseguia produzir para o consumo
próprio e para a venda/ troca com os demais. Mas o capital os obrigou pouco a
pouco a deixarem os seus sistemas e partirem para os pacotes tecnológicos com a
esperança de melhor produção e lucro no
final do processo. Porém, quem mais lucra são as empresas que se utilizam das
riquezas naturais, bens estes de todos os povos e nações, e mão de obra barata,
os trabalhadores das fábricas, para produzirem estes pacotes vendidos aos
agricultores.
A dependência
tecnológica cada vez
maior imposta pelas
empresas
transnacionais é condição
essencial para a manutenção da sua força política e econômica. Mas, para que
essa imposição seja aceita, torna-se necessária a criação e a disseminação de
valores ideológicos que apresentam
as tecnologias como
indispensáveis. E, assim, a dependência tecnológica converte-se em
dependência cultural, criando
um círculo vicioso
que leva à auto-reprodução do
sistema hegemônico e
que atrofia as
capacidades inventivas locais necessárias a todo e qualquer
processo de desenvolvimento endógeno (FEAB, 2010).
E a agroecologia nisso tudo?
A agroecologia
se diferencia da
agricultura convencional, não apenas
por ser um
apanhado de técnicas
ecológicas a serem
aplicadas à produção, mas
por ser uma
ciência que deve
ser aprofundada para compreensão da sua interdisciplinaridade e
por considerar também
seus aspectos sociais, políticos, econômicos, ecológicos, culturais e
éticos (ABEEF, 2011).
Com suas
vertentes vem como um modelo de contraposição ao
agronegócio não só como um novo modo de produção, mas
resgatando a cultura
camponesa e somada
ao conhecimento científico/acadêmico
(ABEEF, 2011).
Pode-se
notar, então, que a agroecologia traz consigo além da mudança de pensamento e
derrubada do conceito vigente de que o modelo de produção atual é único e
essencial. Nisto se encontra não somente
a relação com a natureza, mas toda a relação de produtor com produtor e a sua
permanência e melhoria dela.
Quando se fala
na relação da produção de alimentos com a conservação ambiental se estabelece
como necessidade a melhora nas condições de alimentação e também na sua
quantidade e qualidade, principalmente sem a presença de agrotóxicos. Há também
uma relação de sociedade entre as pessoas da comunidade criando um nível de
organização capaz de promover uma identificação e construção como ser atuante
daquele local, que contribui para a vida e a existência daquele espaço por
gerações. Sem contar que o êxodo rural diminui e então a violência, desemprego
e outros problemas das cidades, muitas vezes percebido no rural, diminuem.
Acredita-se
que quando o jovem está numa perspectiva de vida melhor, que também é um dos
objetivos da Agroecologia, ele possivelmente continua morando em sua comunidade
e com isso promova e leve adiante todos esses fatores, além de criar e manter
uma consciência critica para construir as bases para um novo sistema popular e
mais igualitário.
¹ Graduanda do Curso de Agronomia pela UFSM/CESNOSRS e militante da FEAB.
² Graduanda do Curso de Engenharia Florestal pela UFSM/CESNOSRS e militante da ABEEF.