quinta-feira, 29 de março de 2012

Juventude, Cultura, Valores e a Agroecologia.

Francine Lautenchleger¹

 Monique Longhi²


Há pouco tempo atrás ouviu-se sobre: Que juventude é esta, que sai por ai quebrando tudo??
Esta juventude encontra-se, no que muitos rotulariam de estado de rebeldia. O momento típico da juventude em que tudo parece errado, o seu mundo em conflito. Hora em que os normais tentam conter estes “acessos de loucura”.
Acreditamos que é necessário reavaliar se isto encontra-se de fato entre a população jovem ou se não esta relacionado com a falta de perspectiva encontrada por eles e até mesmo a sua visão de mundo em geral.  
Assim podemos tirar algumas conclusões tais como o papel da juventude, o que esta tem feito e porque tem agido desta maneira.
            No mundo atual tem-se observado um consumismo das condições ambientais. Isso nos moldes de comercialização encontrados resulta em lucro para as empresas, pois a maioria dos produtos consumidos advém das maiores companhias de venda existentes no mercado atualmente. Todo este sistema de comercialização traz consigo uma dinâmica de propagandas marketing que glorificam seus produtos, fazendo com que nós, seres humanos, acreditamos que toda esta modernidade seja indispensável as nossas ações e relações no dia a dia.
            Exemplo disto se encontra as propagandas de brinquedos, vestuário, eletrodomésticos e automóveis. Esta última nos mostrou recentemente o quanto se pode inferir de uma propaganda televisionada.
            Assim sendo, nossas ações, como a compra de produtos e a alimentação, são ditadas pelo que vemos nos meios de comunicação.  

“Tudo que é jovem é bom e, portanto, vende. Cria-se então um mercado voltado para esse status de ser jovem, que envolve desde roupas e acessórios até cosméticos e cirurgias plásticas” (FEAB, 2010).

Este é um dos mercados de ser jovem. Então este fato vai moldando o imaginário e produzindo cada vez mais lucro para estas, como dito anteriormente. Há também que se pensar sobre a alienação advinda com o processo.
Neste caso ressalta-se que é necessário trabalhar, pois para muitos jovens, esta fase da vida é o momento em que estes começam na sua vida profissional. Resta pouco tempo em sua jornada diária para estudo ou outras formas de cultura, assim, o conhecimento torna-se fragilizado, pois baseia-se nas informações recebidas pelos meios televisivos.
 Deste processo pode-se tirar de conclusão que ultimamente tem-se criado uma cultura do capital, que esta dividida em classes sócio-economicas e na divisão sexual do trabalho, que escravisa e domina os seus trabalhadores, sendo muitas vezes as mulheres que sofrem com salários baixos e dupla jornada do trabalho e muitas vezes são pouco reconhecidas por isso. Assim,  a classe dominante (que detém o capital, as grandes  empresas,...) tem como proporcionar a seus filhos, maiores condições e tempo para estudo visto que são eles os continuadores do processo. Enquanto isso a classe média-baixa sofre com grande jornada de trabalho, baixos salários, poucas horas de lazer e estudo.
Atualmente a população jovem (entre 15 e 29 anos) está estimada em 51 milhões no Brasil, aproximadamente 27% da população. Destes, 84,8% vivem em áreas urbanas, sendo que 48,7% vivem em moradias inadequadas. Chega a cerca de 2 milhões de jovens entre 15 e 29 anos que vivem em favelas. Além disso, dos 30,6% que vivem com menos de meio salário mínimo per capita, 70% são negros(FEAB, 2010).
Estima-se que apenas 13,2% dos jovens entre 18 a 24 anos estão matriculados no ensino superior, enquanto 65% estão fora da escola. Entre os jovens de 15 a 17 anos, aproximadamente 17%   estão   fora   da   escola.   Apesar   de   se   ter   observado   uma   diminuição   significativa   na porcentagem de analfabetos (de 6,5 para 2,2 entre os jovens de 15 a 24 anos e de 8,1 para 4,2 entre os de 25 a 29anos), ainda existe imensas desigualdades, regionais, de raça, de gênero, etc, no acesso e direito à educação. Dos 1,1 mil municípios com taxas de analfabetismo superiores a 35%,   90%   estão   concentrados   no   Nordeste.   Existe   uma   desigualdade   enorme   de   acesso   a educação entre os jovens do campo, onde apenas 3,2% frequentam o ensino superior, e da cidade, onde o número aumenta para 17,5% (FEAB, 2010).
Após estes dados podemos analisar um pouco da situação do jovem do campo. Estes estão sofrendo com os mesmos problemas apresentados. O processo em si começou durante a revolução verde em que o aumento de maquinário e insumos para produção obrigou muitos produtores sem condições de competir com os grandes a deixarem suas casas e partirem em busca de emprego na cidade, aliado ao processo de desvalorização do campo, com a centralização da boa imagem e melhores formas de vida no centro das grandes capitais como trabalhadores de indústrias.
Naquela época e ainda hoje observa-se o aumento da violência nas cidades, além de problemas de saúde como alcoolismo e drogas, sem contar a prostituição. Em partes esse processo ocorreu devido ao grande contingente que deslocou-se do campo para a cidade mas que por diversos motivos não foi devidamente absorvido.
Acredita-se que atualmente esse processo ainda ocorra, principalmente  saída das escolas do meio rural, obrigando as crianças a seguir seus estudos na cidade. Então, muitas delas, começam a projetar o seu futuro na forma de vida urbana, e desde cedo são alvejados por propagandas que induzem ao consumismo como comentado anteriormente.
Portanto com a falta de incentivos, como políticas públicas efetivas e formas de crédito voltados principalmente às técnicas sustentáveis e a melhora real da propriedade  e a falta de técnicos que tragam estas novas alternativas e igualmente rentáveis, para que mantenham este futuro jovem (esteja aqui entendido homens e mulheres) no campo e a pouca expectativa de ganhos com a sua propriedade fazem com que o mesmo se desloque para a cidade como em momentos passados, podendo então sofrer com os mesmos males que outrora e atualmente se observa.
Muitos dos que permanecem no campo são obrigados, tal qual aos trabalhadores e trabalhadoras das fábricas a seguirem trabalhando. Isto não quer dizer que não tenham horas de lazer, mas a obrigatoriedade do serviço acontece e seu sustento se remete a isto. Então os agricultores sabem como produzir e preservar a natureza, porém o conhecimento de outros tempos foi se perdendo rapidamente após a chegada da revolução verde. Conhecimento este que conseguia produzir para o consumo próprio e para a venda/ troca com os demais. Mas o capital os obrigou pouco a pouco a deixarem os seus sistemas e partirem para os pacotes tecnológicos com a esperança de melhor  produção e lucro no final do processo. Porém, quem mais lucra são as empresas que se utilizam das riquezas naturais, bens estes de todos os povos e nações, e mão de obra barata, os trabalhadores das fábricas, para produzirem estes pacotes vendidos aos agricultores.
            A   dependência   tecnológica   cada   vez   maior   imposta   pelas   empresas
transnacionais é condição essencial para a manutenção da sua força política e econômica. Mas, para que essa imposição seja aceita, torna-se necessária a criação e a disseminação de valores ideológicos   que   apresentam   as   tecnologias   como  indispensáveis. E, assim, a dependência tecnológica converte-se em dependência   cultural,   criando   um   círculo   vicioso   que   leva   à auto-reprodução  do   sistema   hegemônico   e   que   atrofia   as   capacidades   inventivas   locais necessárias a todo e qualquer processo de desenvolvimento endógeno (FEAB, 2010).


E a agroecologia nisso tudo?
A  agroecologia  se  diferencia  da  agricultura  convencional,  não apenas  por  ser  um  apanhado  de  técnicas  ecológicas  a  serem  aplicadas  à produção,   mas   por   ser   uma   ciência   que   deve   ser   aprofundada   para compreensão  da  sua  interdisciplinaridade  e  por  considerar  também  seus aspectos sociais, políticos, econômicos, ecológicos, culturais e éticos (ABEEF, 2011).
Com  suas  vertentes  vem  como um modelo de contraposição ao agronegócio não só como um novo modo de produção,  mas  resgatando  a  cultura  camponesa  e  somada  ao  conhecimento científico/acadêmico (ABEEF, 2011).
            Pode-se notar, então, que a agroecologia traz consigo além da mudança de pensamento e derrubada do conceito vigente de que o modelo de produção atual é único e essencial. Nisto se  encontra não somente a relação com a natureza, mas toda a relação de produtor com produtor e a sua permanência e melhoria dela.
Quando se fala na relação da produção de alimentos com a conservação ambiental se estabelece como necessidade a melhora nas condições de alimentação e também na sua quantidade e qualidade, principalmente sem a presença de agrotóxicos. Há também uma relação de sociedade entre as pessoas da comunidade criando um nível de organização capaz de promover uma identificação e construção como ser atuante daquele local, que contribui para a vida e a existência daquele espaço por gerações. Sem contar que o êxodo rural diminui e então a violência, desemprego e outros problemas das cidades, muitas vezes percebido no rural, diminuem. 
            Acredita-se que quando o jovem está numa perspectiva de vida melhor, que também é um dos objetivos da Agroecologia, ele possivelmente continua morando em sua comunidade e com isso promova e leve adiante todos esses fatores, além de criar e manter uma consciência critica para construir as bases para um novo sistema popular e mais igualitário.

¹ Graduanda do Curso de Agronomia pela UFSM/CESNOSRS e militante da FEAB.
² Graduanda do Curso de Engenharia Florestal pela UFSM/CESNOSRS e militante da ABEEF.

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