quinta-feira, 29 de março de 2012

A privatização da Ciência e Tecnologia pelo Capital


Henrique Weber Dalla Costa¹

            Vivemos em um mundo regido por um sistema (capitalista) que visa o lucro e o acúmulo do capital; em tal sistema (geralmente) são ignoradas as questões socioambientais e a tecnociência está inserida nesse contexto “trabalhando” em prol do capital. (Não seria mais coerente estar trabalhando em prol do social?)
            A constante e acelerada inovação tecnológica, onde a cada dia surgem novos produtos mais modernos e avançados, caracteriza o momento histórico da sociedade mundial atual.
Tais inovações são estimuladas pelo capitalismo – que visa sempre à obtenção de lucro – o que ocasionou numa desvinculação com as reais necessidades da sociedade e uma despreocupação (desrespeito) com as questões sociais e ambientais.
O desenvolvimento tecnológico deve ser usado a favor e em conjunto da sociedade, sendo este discutido de forma ampla e democrática. O aparato científico-tecnológico influencia diretamente no modo de produção agrícola, envolvendo diretamente a discussão da nossa formação profissional, sustentabilidade e viabilidade social das transformações da matriz tecnológica.
            Temos observado desde a Revolução Verde uma crescente no uso de agrotóxicos (venenos), o uso de maquinários agrícolas e o surgimento dos transgênicos. Tais acontecimentos só foram possíveis através da produção tecnocientífica em prol do capitalismo.

Os transgênicos, os agrotóxicos e o modelo de produção
            A ligação entre a transgenia e os agrotóxicos vem de longa data. Em meados da década de 1970 até hoje empresas do ramo de fármacos e de agrotóxicos passaram a atuar no ramo de sementes.
         As sementes como tais não podem ser patenteadas, porém alguns processos da produção de sementes transgênicas, podem. Portanto as sementes transgênicas sofrem o chamado “patenteamento virtual”.
            Mesmo com o avanço sobre o setor de semente, os agrotóxicos continuam como carro-chefe de tais empresas. Alguns agrotóxicos campeões de vendo, como o Roundap (glifosato) estavam com suas patentes a vias de expirar, aí surge um pacote: sementes transgênicas patenteadas e geneticamente modificadas para o uso combinado com os agrotóxicos prestes a caírem no mundo dos genéricos.
            Cria-se uma dependência cada vez maior do agricultor para com as empresas produtoras dos transgênicos e agrotóxicos. É a privatização da ciência, tecnologia e do conhecimento em prol da geração de lucro.
            Quem decide quais os rumos das pesquisas científicas e tecnológicas? Não se pode deixar nas mãos de governos, empresas e cientistas essa decisão, a ciência e a tecnologia são de fundamental importância e atingem a sociedade de forma incisiva, devendo assim ser discutida por toda sociedade.
O que está em disputa são dois modelos de desenvolvimento rural: um centrado no latifúndio, controlado pelos grandes grupos multinacionais e baseado nas monoculturas dependentes dos insumos químicos e o outro centrado nas pequenas e média unidades de produção agropecuária, organizado em redes de cooperativas, agroindústrias locais, empresas nacionais, empresas públicas estratégicas e baseados na diversificação produtiva e em tecnologias orgânicas e agroecológicas.
Esta disputa de fundo é que guia as disputas imediatas. As multinacionais do agronegócio sabem o que querem e onde querem chegar. Os transgênicos são apenas mais uma importante frente de batalha para elas e para os que querem um Brasil soberano, com uma agricultura camponesa forte produzindo alimentos saudáveis e variados em grande quantidade para nossa população e para o mundo.

“Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar.
É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário.
E agora não contentes querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento,
que só à humanidade pertencem.”
Privatizado – Bertold Brecht

¹ Acadêmico de Engenharia Florestal pela UFSM/CESNOSRS e militante da ABEEF.

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