Henrique Weber Dalla Costa¹
Vivemos em um mundo regido por um
sistema (capitalista) que visa o lucro e o acúmulo do capital; em tal sistema
(geralmente) são ignoradas as questões socioambientais e a tecnociência está
inserida nesse contexto “trabalhando” em prol do capital. (Não seria mais
coerente estar trabalhando em prol do social?)
A constante e acelerada inovação
tecnológica, onde a cada dia surgem novos produtos mais modernos e avançados,
caracteriza o momento histórico da sociedade mundial atual.
Tais inovações são estimuladas pelo capitalismo
– que visa sempre à obtenção de lucro – o que ocasionou numa desvinculação com
as reais necessidades da sociedade e uma despreocupação (desrespeito) com as
questões sociais e ambientais.
O desenvolvimento tecnológico deve ser usado a
favor e em conjunto da sociedade, sendo este discutido de forma ampla e
democrática. O aparato científico-tecnológico influencia diretamente no modo de
produção agrícola, envolvendo diretamente a discussão da nossa formação
profissional, sustentabilidade e viabilidade social das transformações da
matriz tecnológica.
Temos observado desde a Revolução
Verde uma crescente no uso de agrotóxicos (venenos), o uso de maquinários agrícolas
e o surgimento dos transgênicos. Tais acontecimentos só foram possíveis através
da produção tecnocientífica em prol do capitalismo.
Os
transgênicos, os agrotóxicos e o modelo de produção
A ligação entre a transgenia e os
agrotóxicos vem de longa data. Em meados da década de 1970 até hoje empresas do
ramo de fármacos e de agrotóxicos passaram a atuar no ramo de sementes.
Mesmo com o avanço sobre o setor de
semente, os agrotóxicos continuam como carro-chefe de tais empresas. Alguns
agrotóxicos campeões de vendo, como o Roundap (glifosato) estavam com suas
patentes a vias de expirar, aí surge um pacote: sementes transgênicas
patenteadas e geneticamente modificadas para o uso combinado com os agrotóxicos
prestes a caírem no mundo dos genéricos.
Cria-se uma dependência cada vez
maior do agricultor para com as empresas produtoras dos transgênicos e
agrotóxicos. É a privatização da ciência, tecnologia e do conhecimento em prol
da geração de lucro.
Quem decide quais os rumos das
pesquisas científicas e tecnológicas? Não se pode deixar nas mãos de governos,
empresas e cientistas essa decisão, a ciência e a tecnologia são de fundamental
importância e atingem a sociedade de forma incisiva, devendo assim ser
discutida por toda sociedade.
O que está em disputa são dois modelos de
desenvolvimento rural: um centrado no latifúndio, controlado pelos grandes
grupos multinacionais e baseado nas monoculturas dependentes dos insumos
químicos e o outro centrado nas pequenas e média unidades de produção
agropecuária, organizado em redes de cooperativas, agroindústrias locais,
empresas nacionais, empresas públicas estratégicas e baseados na diversificação
produtiva e em tecnologias orgânicas e agroecológicas.
Esta disputa de fundo é que guia as disputas
imediatas. As multinacionais do agronegócio sabem o que querem e onde querem
chegar. Os transgênicos são apenas mais uma importante frente de batalha para
elas e para os que querem um Brasil soberano, com uma agricultura camponesa
forte produzindo alimentos saudáveis e variados em grande quantidade para nossa
população e para o mundo.
“Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu
direito de pensar.
É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário.
E agora não contentes querem privatizar o conhecimento, a
sabedoria, o pensamento,
que só à humanidade pertencem.”
Privatizado – Bertold Brecht
¹ Acadêmico de Engenharia Florestal pela UFSM/CESNOSRS
e militante da ABEEF.
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